A primeira ciclorrota da capital entrou em funcionamento na última quarta-feira (20) na zona sul de SP, cortando os bairros de Santo Amaro e Brooklin e interligando os Parques do Cordeiro e Severo Gomes à Avenida Jornalista Roberto Marinho. Mesmo bem sinalizada, passando por ruas arborizadas e agradáveis na maior parte do trajeto, ficou evidente no primeiro dia que, sem fiscalização, os limites de velocidade do percurso dificilmente serão respeitados. Também faltou “combinar” com os motoristas o que é uma via compartilhada, de uso preferencial por bicicletas.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo cruzou com apenas dois agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) nos 15 quilômetros da ciclorrota entre a manhã e a tarde de ontem. Sem marronzinhos, motoristas ignoram o limite máximo de 30 km/h em vias residenciais e 40 km/h na Ruas Alexandre Dumas e Verbo Divino. “O respeito pode vir com o tempo, porque, se depender só das placas e da pintura no asfalto, quem anda de bicicleta ainda vai sofrer muito. Infelizmente, se não pesar no bolso, ninguém vai obedecer”, diz o taxista Valdinei Rodrigues, de 37 anos.
Além do excesso de velocidade, as ultrapassagens ainda são feitas desrespeitando também a obrigação de se manter 1,5 metro de distância do ciclista. Algumas ruas são tão estreitas que qualquer ultrapassagem seria ilegal. Mas elas acontecem.
“É questão de cultura, de saber que deve existir uma boa convivência entre todas as formas de transporte. Em países bastante populosos, como China e Índia, isso já acontece”, diz publicitário José Carlos Secco, de 48 anos, que já rodou 850 mil km de bicicleta e ontem treinava ao redor do Parque Severo Gomes.
A pista compartilhada também é vista com desconfiança pelo jardineiro Benedito de Andrade, de 54 anos, que mora, trabalha e usa a bicicleta pelas ruas de Santo Amaro. “Se não tiver uma faixa exclusiva, eles (os carros) vão continuar vindo para cima.”
O trajeto favorece principalmente quem utiliza a rota para lazer. “O uso de bicicletas na cidade é crescente. Seria importante poder usar também como transporte”, diz o engenheiro Sávio Ferreira de Melo. “A iniciativa é muito boa, mas os carros ainda ignoram a sinalização.”
O designer Renato Aguiar Peccioli, de 31 anos, elogiou as bicicletas pintadas no solo, as faixas sobre as vias, as placas. Mas fez ressalvas. “Na real, não vai mudar muito se ninguém fiscalizar”, alerta.
A reportagem notou também pavimento irregular, trechos bastante íngremes, como na Rua Job Lane, e até mesmo vias de paralelepípedo, longe do ideal para quem anda de bicicleta.
Resposta. A CET diz que os agentes que fazem a fiscalização diária na região vão orientar e informar ciclistas e motoristas sobre o compartilhamento das vias e a importância do respeito aos novos limites de velocidade. Segundo o órgão, as ruas que compõem a rota foram escolhidas por não terem circulação intensa de ônibus e caminhões e o trajeto é o que melhor mantém a linearidade do percurso. A CET diz que o objetivo é incentivar o uso da bicicleta em viagens pequenas. Pesquisas realizadas apontaram que nessas regiões as bicicletas já são utilizadas como meio de transporte.
Fonte: O Estado de S. Paulo